sábado, 22 de janeiro de 2011

Fratura exposta




Uma fratura exposta dói não só no dia em que se abre, mas cada vez que o vento decide trazer alguma poeira daquilo que com o corte se perdeu.

A poeira pode ser pequena e causar pontadas de dor, ou grande, trazendo toda a sujeira de uma cidade, causando explosões. Pode-se passar álcool todo o final de semana para desinfetar, mas a proteção invisível evapora no dia seguinte, deixando a poeira entrar.

O que esquecemos é que a fratura só continua exposta por opção. Uma sutura é sempre possível e recomendada.

A previsão da dor da agulha entrando na carne é o que nos paraliza. Costurar dói tanto quanto fraturar.

Seja por raiva, desespero ou puro masoquismo, um dia a coragem chega. E uma vez costurada, a porta se fecha para a poeira, a dor passa e dá lugar a coceira. Uma coceira que não grita como a dor, mas que sussurra constantemente ao pé do ouvido.

Até que, um a um, os pontos começam a cair, por cada rasgo que um dia fez doer. Dando lugar a cicatriz, uma linha torta em um corpo, agora, fechado.

[Bibiana Haygert]